quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Maracatu Pós Moderno e assistentes

Na história ou percurso dos movimentos culturais brasileiros o "Manguebit", estilo criado em
Pernambuco no começo dos anos 90, tem uma influência primordial para uma compreensão das
influências na música brasileira deste século. Formada por uma trupe que misturava tambores em
ritmos folclóricos, velozes e pesados com guitarras elétricas e distorções sintetizadas, o Chico
Science e Nação Zumbi chegava balançando as estruturas do que se entendia por música brasileira.Até então nada como aquilo havia sido visto antes. O estilo veio para ficar e comprovar que ainda haviam caminhos e traços para destrinchar nessa grande variedade multicultural que é o Brasil.

As portas ficaram abertas para que centenas de bandas se projetassem. Mundo Livre SA. , Eddie,
Shake Tosado - como mais antigas , Comadre Florzinha, Mombojó, Ortinho, Junio Barreto, Cordel do Fogo Encantado mais novas. O fato é que os olhos do mundo ficaram voltados naquela direção. O Peso, a sonoridade, incendiou todos os que podiam perceber o elemento mágico ali contido, a
centelha nordestina em sua raíz havia sido despertada mais uma vez para demonstrar que os
espíritos ancestrais apenas dormiam de tempos em tempos para despertarem com muito mais força e imperatividade, resgatando as origens da dança Afro na Pós Modernidade.

O que entendo por lado positivo na pós modernidade seriam os alicerces inventivos, os gênios
que conseguem transcender usando tecnologia, informação e experiência a serviço da cultura, do
resgate, da manutenção do vivido e do contexto em que nos encontramos. Maracatu
em essência era uma música com batuques que se caracterizava pela resistência dos escravos negros a 400 anos. Com a mesma importância de outras danças como a capoeira , (ou até bem relacionada a ela) , esse ritmo folclórico estava esquecido, ou era fracamente divulgado, deixando os holofotes voltados para a primeira enquanto esta continuava sua luta por reconhecimento nos carnavais de Pernambuco.

Eis que surge uma força centrípeta capaz de colocar o elemento em seu devido lugar. O nome dessa potência seria ainda uma icógnita, pois o conceito de pós modernidade é uma interrogação. Para onde estamos indo? Em que velocidade as coisas se constroem , evoluem e se fragmentam é algo que não temos como absorver. Então temos um movimento contraditório nas culturas. Almas sensíveis trabalham em gêneros artísticos que são projetados pela geração "Leptop" espalhados por todos os lados do globo. Uma boa parte da população fica sem esse acesso imediato ao êxtase artístico. Essa cultura pura, em raíz e atualizada pelas diversas inovações contemporâneas é colocada em atrito com diversos produtos derivados da cultura Pop ou até mesmo em paralelo com outros culturalismos primordiais. Nos perdemos no enredo que promoveria a divulgação e a
instalação dos artistas que procuram resgatar a pangéia de uma linha histórica e ancestral.


Os Assistentes servem para ou colidir com as ideologias tecnologicas nesse sentido tanto quanto
podem ser um mecanismo de instrução e trazer a tona a ponta do iceberg que deve ser aprofundado por todos os que se atrevem a ir fundo em um conhecimento crítico, em prol do núcleo e do que realmente é importante no mundo contemporâneo. Sociedade de consumo, corporações, a ideologia do capitalismo míope e com altos índices de estrabismo não contribuem para formular uma consciência de valores que todos os habitantes do planeta poderiam ter nesse momento.


Apenas uma reflexão. Fica aí o paradoxo. Raízes e Pós modernidade podem andar juntas? Os assistentes sempre tentarão impor seu próprio mecanismo em si-mesmos como imprescindíveis. Ainda temos a fuga e sempre de décadas em décadas somos chamados a direção que quebra nossos valores mais superficiais. Acordar para o Manguebit, enxergar o Maracatu. Eis um desafio que não se pode ignorar nesse início de século tão caótico.